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Um apelo que deve ser feito de modo genérico aos professores de português é que eles evitem ensinar aos alunos que substantivo concreto é aquele que se pode pegar e que substantivo abstrato é aquele que não se pode pegar. Isso é uma grande bobagem. O substantivo abstrato é simplesmente aquele que dá o nome a alguma coisa, que designa o ato de alguma coisa. O ato de quebrar é "quebra". O ato de participar é "participação". O ato de vender é "venda", e assim por diante. Todos esses substantivos são abstratos. Como Gilberto Gil na música "Rebento": "Rebento, substantivo abstrato...". Por que abstrato? Porque
"rebento" é o ato de rebentar. Nomes de sentimento, como
"amor", de estado, como "gravidez", e de qualidade,
como "inteligência", também são substantivos abstratos.
Bem, cada caso é um caso. Você faria plural de "raiva", por exemplo? Ou de "inveja"? São palavras que soam esquisitas no plural, mas isso não estabelece uma regra. Vamos ver um exemplo com a palavra "ciúme". Observe a letra da canção "Olhos nos olhos", gravada por Maria Bethânia: "...Quando
você me deixou, Você notou, a certa altura, o verso "quis morrer de ciúme". Muita gente por aí fala "ciúmes". Nada contra, mas precisamos escolher: ou falamos "o ciúme" ou "os ciúmes". Nunca "o ciúmes". Na verdade, a forma singular - "o ciúme" - é preferencial, já que em tese o substantivo abstrato não se pluraliza, ao menos na maioria dos casos. Vamos ver outro caso, agora tomando como exemplo a canção "Você pra mim", gravada por Fernanda Abreu: "Às
vezes passo dias inteiros A exemplo do que acontece
com "ciúme", não são poucas as pessoas que falam "estou com uma
saudades de você". Ora, é necessário sempre concordar o substantivo
com seu determinante. Se o substantivo vai para o plural, o pronome
ou o artigo devem ir também. |